Entrevista | Psicóloga do HAM publica livro sobre Psicologia Hospitalar e da Saúde
- Publicado em 11/11/2022
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Após 18 meses de início do projeto, a psicóloga do Hospital Aristides Maltez (HAM), Raquel de Sousa Ribeiro, lançou no final de outubro de 2022, juntamente com a colega de profissão, Aline Ataíde, o livro “Psicologia Hospitalar e da Saúde – Teoria e Prática à Luz da Gestalt-Terapia”. A obra que conta com material de 11 autoras, sendo 9 da Bahia, veio da necessidade de se “ter material sobre o tema com esse olhar do cuidado psicológico diante das repercussões emocionais durante o adoecimento”, pontuou Raquel.
Por que falar sobre doenças como o câncer?
Raquel – “A gente entende que todo adoecimento não é à toa. Se tem uma manifestação fisiológica do corpo, é porque o organismo se predispôs, por exemplo, a desenvolver células cancerígenas. Então, todo o processo desde o tipo de doença à forma como foi descoberta, tratada, o estado emocional da pessoa durante o tratamento… enfim, tudo isso tem a ver com a história de vida da pessoa, de onde ela está inserida, quais são os hábitos de vida, seus recursos e vulnerabilidade. Então, o adoecimento é uma manifestação fisiológica de algo que tem um fundo biopsicossocioespiritual.”
Como o acompanhamento psicológico pode interferir na evolução do paciente com câncer e do familiar, que fica na unidade acompanhando o ente?
Raquel – “A gente primeiro tem que ter um olhar de contextualizar as demandas. O HAM recebe muitos pacientes do interior. Então, a conexão começa conhecendo a realidade de cada pessoa, com acolhimento. De onde veio, como é que foi essa história, da trajetória, do itinerário terapêutico e como a pessoa e sua família estão aqui agora. Esse olhar é muito contextualizado no paciente oncológico e num contato muito profundo e alinhado com toda a equipe multiprofissional. É muito importante que a Psicologia faça o acompanhamento. O câncer por si só já tem um estigma muito grande. O medo, o impacto do diagnóstico, a preocupação com o tratamento, todas as perdas que envolvem, o risco de morte… O olhar da Gestalt-Terapia vai contextualizar sempre observando a necessidade de cada momento. O cuidado aos pacientes e familiares envolve a compreensão de suas reações, que revelam sua forma de lidar com as dificuldades e sofrimento durante o adoecimento, com o momento da vida e história de vida que essa pessoa tem, os recursos que a pessoa tem, sua rede de apoio familiar e quais são as necessidades, apoiando assim, para que encontrem ajustamentos criativos, sua melhor forma de passar por esse processo e convocando demais profissionais, se preciso for, para que cada pessoa encontre sua melhor forma de passar pelo adoecimento e internamento junto com seus familiares e equipe.”
Por que se juntar a essas mulheres e fazer esse livro?
Raquel – “Vou me sentir livre para adaptar a pergunta para o ‘para quê?’, que faz mais sentido para a Gestalt-Terapia. Veio no sentido da necessidade de ampliar a compreensão teórica que sempre respaldou o início da Psicologia Hospitalar e da Saúde, que é a Psicanálise, e de compartilhar o entendimento de outras teorias, outras abordagens. Existem algumas Gestalt-Terapeutas trabalhando em hospitais e com saúde no Brasil. E, então, se a compreensão e as discussões teóricas vinham inicialmente da Psicanálise, é natural que as outras abordagens também dêem suas contribuições. Vai trazendo outras leituras, outras formas de compreender essa prática e teoria do adoecimento, do internamento que são complementares. Isso surge no ‘por quê e para quê’ de uma forma muito espontânea como consequência de uma totalidade atual, do desenvolvimento da atuação de Gestalt-terapeutas que atuam na Psicologia da Saúde e Hospitalar. Porque esse livro não é meu e de Aline. É de um grupo. Então, a gente percebeu que esse tema, que nos atravessa fortemente, não tinha material nesse olhar, pra essa área de atuação, que é a Psicologia da Saúde. Tinha alguns artigos publicados, mas nenhum livro. Então, é diante dessa falta e dificuldade que sentíamos que surge o livro para ser compartilhado e formalizar o que já acontecia. A gente já vinha fazendo esse trabalho há um tempo, em palestras, cursos… Por que não conseguir colocar isso em texto? E ter a companhia de Aline foi fundamental, uma vez que ela, além da experiência, que tem como autora é profissional de excelência e de referência, como psicoterapeuta e professora.”
Como a sua experiência no HAM interferiu na produção do livro?
Raquel – “Eu estive aqui como estagiária em 2010 e sempre quis retornar. Em 2016, eu fiquei muito feliz de ter sido aprovada na seleção e poder estar de volta ao HAM. Eu já trabalhei em outros hospitais, mas o HAM marca muito a minha história. É um hospital com o qual eu me identifico muito e que tem uma representação histórica em Salvador e na Bahia. É um serviço de Psicologia de 33 anos, tem praticamente o tempo do SUS. Fazemos atendimento ambulatórial, domiciliar, nas enfermarias e UTI, onde estou há 5 anos. O nosso hospital é anterior ao SUS e, historicamente, a gente tem um berço de muita fonte de ensino e de assistência. E isso é muito forte e significativo socialmente falando. O Maltez representa muito para a Psicologia Hospitalar da Bahia de forma muito generosa, como um serviço que cresce, que ensina, aprende e se faz presente aqui neste livro com muito carinho e agradecimento.”
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